Sandra Cinto

Sandra Cinto - Sem Título - Série A Travessia Difícil

Sem Título - Série A Travessia Difícil

nanquim sobre papel
2007
70 x 100 cm
assinatura no verso

Sandra Cinto (Santo André SP 1968)

Escultora, desenhista, pintora, gravadora e professora.

Forma-se em educação artística nas Faculdades Integradas Teresa D'Ávila - Fatea, em Santo André, em 1990. Atua no Laboratório de Estudos e Criação na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP. Em 2002 cria o troféu para o Prêmio Multicultural Estadão, realizado em São Paulo.

Comentário Crítico

Sandra Cinto inicia sua trajetória na década de 1990, realizando representações de céus e nuvens, contidas em caixas e armários, como em Retábulo (1995). Para a crítica Lisette Lagnado, a artista cria imagens fantásticas, que apresentam afinidade com o trabalho do pintor belga René Magritte (1898-1967). Em seus desenhos, que se destacam sobretudo por ampliarem-se para suportes combinados de maneira pouco previsível, são freqüentes as escadas, pontes, abismos, candelabros, velas acesas e árvores sem folhas e frutos. Neles, ela revela admiração pela obra de Leonilson (1957-1993).

Sandra Cinto apropria-se freqüentemente de fotografias, por vezes retratos seus de infância ou atuais, que são associadas a outros objetos, como esculturas de madeira que simulam livros ou camas. Como nota o historiador da arte Tadeu Chiarelli, todos esses suportes ou elementos formam um ponto de encontro e difusão de infinitas narrativas, jamais concluídas, e comumente se configuram como soluções concebidas para espaços específicos. A artista traz para sua produção a desestruturação de certos conceitos formalistas, sobretudo aquele voltado para a busca das especificidades de linguagens, aliando em seus trabalhos procedimentos diversos, como o desenho, a escultura e a fotografia. Como aponta ainda Chiarelli, em sua produção há obras em que sonho e realidade parecem coexistir em silenciosa e contraditória harmonia.

Críticas

"Ao emergir na cena artística paulistana, nas coletivas de artistas jovens realizadas por Sonia Salzstein no Centro Cultural São Paulo, Sandra Cinto surpreendeu. Ainda em plena vigência da pintura matérica, brutal e caótica, herdada dos anos 80, Sandra apresentava pinturas com nuvens de cândidos azuis coloniais, feitas com levíssimas camadas de tinta. Ingenuidade ou ousadia? As pinturas evidenciavam também a admiração por Magritte. Voltar ao surrealismo nos anos 90? Exibidos por ela na mesma ocasião, objetos em formato de maquetes demonstravam o eficiente uso de linguagens contemporâneas, denotando informação e potência expressiva. Pura ousadia, portanto.
Esses objetos, feitos de dois pequenos ambientes ligados por uma porta, sinalizavam a mesma poética das telas: enquanto as nuvens, pintadas como túneis enovelados, apontavam o caminho da transcendência, a porta da maquete era metáfora da passagem para o infinito, trajeto entre um chão de pigmentos e o imaterial sinalizado pelo cheiro da cânfora ou do éter. Depois, Sandra passou a pintar as nuvens de vermelho, virando a chave da leitura da sua obra para a percepção do corpo, das vísceras e do sangue. ´Quem nasceu a partir da metade dos anos 60 é a geração pós-Aids e isso pesa forte´, diz a artista. ´A maioria de nós começou a ter vida sexual com essa ameaça, prazer e sedução que não vão até o fim pelo pânico; temos a liberdade truncada.´ As filiações artísticas são várias, articuladas de modo harmônico para solidificar um caminho pessoal. Uma das mais evidentes na atualidade reside na sua construção de planos, que remete às delicadas paisagens de Guignard - ´O mais difícil é fazer o simples e é isso o que mais admiro nele´, revela".
Angélica de Moraes
Angélica de Moraes, Sandra Cinto cria arte com a dor do mundo. O Estado de S. Paulo, s.d.

"Sandra Cinto irrompeu na paisagem contemporânea com uma representação anacrônica do espaço celestial, colorações serenas e atmosferas noturnas. De início, parecia reivindicar um lugar para uma pintura complacente do mundo. Mas a enorme mansidão dos quadros, paradoxalmente a seu caráter humilde, se impunha como força incontornável. Aos poucos, o tom foi declinando dos azuis e cinzas, e o rubor intempestivo das nuvens bem poderia aludir às ondas de um oceano revolto, índice do temor frente à incomensurabilidade da Natureza - tema tratado mais recentemente na sua instalação para a Capela do Morumbi, transformada em grande embarcação alegórica dotada de velas brancas de ponta-cabeça.1 Com esse desvio, a artista ganha complexidade ao sugerir que o espaço ilimitado não está apenas fora do sujeito. Sandra Cinto direciona o olhar para a metáfora do céu interno da remissão, dando-lhe o corpo que lhe faltava no plano bidimensional. Então, num refluxo presumível, os céus começam a caber dentro de pequenas caixas (destrancadas), armários (entreabertos) ou retábulos de madeira nova e clara - todo um mobiliário que evoca vias (bloqueadas) de passagem de uma dimensão para outra, acesso possível apenas no imaginário fantástico. A artista vai recorrer ao estilo onírico de Magritte, não mais para extrair-lhe seus enigmas poéticos, mas em busca do valor simbólico da imagem: a gaiola, lâmpadas acesas em pleno dia, um morango ou uma maçã no firmamento da história da arte. A configuração sensual (e feminina) do fruto - exuberante e desproporcional - reluz tal um ´astro´ no centro de seus céus. Coerente com o vocabulário do sublime, Sandra Cinto assimila a luz em suas esculturas.2 Desse momento em diante, o trabalho trilharia uma investigação mais livre. Um lavrado de traço fino e cuidadoso desenha florestas povoadas de formas longilíneas, escadas, troncos, lágrimas, nuvens, gaivotas, lustres e velas acesas. O etéreo, que emanava da matéria rala e embaçada dos céus metafísicos, ganha um aspecto palpável com a incrustação, na altura do abdômen da parede, de uma flauta modificada e fundida em bronze, ao mesmo tempo afirmativa e ´doce´ (no sentido literal e figurado).3 O culto às formas em suspensão tem, ângulo reto, a tensão necessária para fazer frente à quase dissolução das linhas".

Notas
1. São Paulo, 1997.
2. A instalação se compunha de três elementos: uma pequena caixa de madeira com céu pintado, uma gaiola em escala humana e um lustre aceso pendurado no teto e apoiado no chão. Antarctica Artes com Folha, curadoria de Lisette Lagnado, Lorenzo Mammi, Nelson Brissac, Stella Teixeira de Barros e Tadeu Jungle. Pavilhão Manoel da Nóbrega, São Paulo, 1996.
3. Coletiva "Intervalos", curadoria de Daniela Bousso, Paço das Artes, São Paulo, 1997.

Lisette Lagnado
CINTO, Sandra. Sandra Cinto. Texto Lisette Lagnado; tradução Stephen Berg. São Paulo : Casa Triângulo, 1998. p.5-6.

Exposições Individuais

1992 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Funarte. Galeria Macunaíma
1992 - São Paulo SP - Individual, Programa Anual de Exposições do Centro Cultural São Paulo, na Fundação Bienal
1992 - São Paulo SP - Individual, no CCSP
1993 - São Paulo SP - Individual, na Casa Triângulo
1994 - São Paulo SP - Individual, na Casa Triângulo
1997 - São Paulo SP - Individual, na Capela do Morumbi
1998 - São Paulo SP - Individual, na Casa Triângulo
1999 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Bonakdar Jancou Gallery
2001 - Nova York (Estados Unidos) - Individual, na Tanya Bonakdar Gallery
2001 - São Paulo SP - Individual, na Casa Triângulo
2001 - São Paulo SP - Individual, no CCSP
2003 - Belo Horizonte MG - Individual, no MAP
2003 - São Paulo SP - Individual, no MAM/SP
2005 - São Paulo SP - O Retrato como Imagem do Mundo, no MAM/SP

Exposições Coletivas

1988 - São Paulo SP - 4º Salão Universitário de Artes Plásticas, na Faculdade Santa Marcelina - menção honrosa
1989 - São Paulo SP - Coletiva, no MAM/SP - 1º Prêmio Canson de Arte com Papel
1991 - Belo Horizonte MG - 23º Salão Nacional de Arte Contemporânea, no MAP
1991 - Campinas SP - Coletiva, no MACC
1991 - São Paulo SP - 23º Salão Nacional de Arte com Papel, no MAM/SP
1992 - Piracicaba SP - 24º Salão de Arte Contemporânea: Instalações, no Engenho Central
1992 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Macunaíma, na Funarte. Centro de Artes
1992 - São Paulo SP - Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas, no CCSP  
1993 - Santo André SP - Razão e Mistério, no Paço Municipal de Santo André
1993 - São Paulo SP - 2 x 365 = 4, na Fundação Mokiti Okada
1993 - São Paulo SP - Coletiva de Pintura, no Espaço Namour
1993 - São Paulo SP - Cristina Agostinho & Sandra Cinto, na Galeria Casa Triângulo
1994 - Santo André SP - Salão de Arte Contemporânea de Santo André - prêmio aquisição
1994 - São Paulo SP - Acervo 94, na Galeria Casa Triângulo  
1994 - São Paulo SP - Imagem Não Virtual, na Galeria Casa Triângulo
1995 - São Bernardo do Campo SP - Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo do Campo, no Espaço Henfil, prêmio aquisição
1995 - São Paulo SP - Amanhã, Hoje, no Salão Cultural da Faap
1996 - São Paulo SP - Ouro de Artista, na Casa Triângulo
1996 - São Paulo SP - Projeto Antarctica Artes com a Folha, no Pavilhão Manoel da Nóbrega 
1997 - Belém PA - Sete Artistas Emergentes, na Galeria Theodoro Braga
1997 - Curitiba PR - A Arte Contemporânea da Gravura, no MuMA
1997 - Florianópolis SC - Salão de Arte Contemporânea Victor Meirelles, no Masc - prêmio aquisição
1997 - Madri (Espanha) - Arco 97
1997 - Santos SP - 10ª Bienal de Santos, no Centro Cultural Patrícia Galvão
1997 - São Paulo SP - Coletiva de Esculturas, na Galeria da Casa Triângulo
1997 - São Paulo SP - Fora de Registro, no MAB/Faap
1997 - São Paulo SP - Intervalos, no Paço das Artes
1997 - São Paulo SP - Mostra Comemorativa de Nove Anos da Galeria Casa Triângulo
1997 - Salvador BA - 4º Salão da Bahia, no MAM/BA
1998 - Curitiba PR - Coletiva, no Memorial da Cidade de Curitiba
1998 - Rio de Janeiro RJ - Albano Afonso, Rosana Monnerat e Sandra Cinto, no Espaço Cultural dos Correios
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1998 - São Paulo SP - A Linha, na Casa Galeria Triângulo
1998 - São Paulo SP - Fronteiras, no Itaú Cultural
1999 - Boston (Estados Unidos) - Contemporary Collect Collectors: 1900-1999, no The Institute of Contemporary Art
1999 - Curitiba PR - Inventário do Presente, na Galeria Casa da Imagem  
1999 - Madri (Espanha) - Arco 99, no Parque Ferial Juan Carlos I 
1999 - Porto Alegre RS - 2ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, na Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul
1999 - Rio de Janeiro RJ - EXTRA LARGE extra-small, no Espaço Cultural dos Correios
1999 - San Diego (Estados Unidos) - Contemporary Collectors, no Museum of Contemporary Art
1999 - São Paulo SP - Sob Medida: a figura na fotografia contemporânea, no Espaço Porto Seguro de Fotografia
1999 - São Paulo SP - Território Expandido, no Sesc Pompéia
2000 - Belo Horizonte MG - Investigações: São ou Não São Gravuras, no Itaú Cultural
2000 - Brasília DF - Investigações: São ou Não São Gravuras, na Galeria Itaú Cultural
2000 - Caxias do Sul RS - Mostra de Arte Contemporânea, na Universidade de Caxias do Sul
2000 - Curitiba PR - 12ª Mostra da Gravura Cidade de Curitiba. Marcas do Corpo, Dobras da Alma
2000 - Guadalajara (México) - Fotografia não Fotografia, no Museu de las Artes de la Universidade de Guadalajara
2000 - Guadalajara (México)- America Foto Latina: la fotografia en el arte contemporâneo, no Museo de Las Artes de La Universidad de Guadalajara
2000 - Madri (Espanha) - Armory Art Fair
2000 - Nova York (Estados Unidos) - Summer Group Exhibitions, na Paula Cooper Gallery
2000 - Paris (França) - Elysian Fields, no Centre Georges Pompidou
2000 - Paris (France) - Arts dans lê Monde, na Pont Alexandre III
2000 - Pontevedra (Espanha) - 26ª Bienal de Pontevedra, na Facultade de Ciencias Sociais
2000 - Porto (Portugal) - Coletiva, na Galeria Canvas
2000 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Gilberto Gil, no Paço Imperial  
2000 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Gilberto Chateaubriand: novas aquisições, no MAM/RJ
2000 - São Paulo SP - Desenho Contemporâneo Módulo I, no MAM/SP
2000 - São Paulo SP - Fim de Milênio: os anos 90, no MAM/SP 
2000 - São Paulo SP - Obra Nova, no MAC/USP
2000 - São Paulo SP - Passagens, no Centro Universitário Maria Antonia
2000 - Valência (Espanha) - Mujeres de las dos Orilas, no Centre Valencià de Cultura Mediterrànea la Beneficència
2001 - Buenos Aires (Argentina) - Mostra do Redescobrimento: núcleo contemporâneo, no Museo de Arte Contemporáneo de Buenos Aires
2001 - Campinas SP - Deslocamentos do Eu: o auto-retrato digital e pré-digital na arte brasileira 1976 - 2001, no Itaú Cultural
2001 - Caracas (Venezuela) - 4ª Bienal do Barro de América
2001 - Madri (Espanha) - Arco 2001
2001 - Nova York (Estados Unidos) - Armory Art Fair
2001 - São Paulo SP - 4ª Bienal Barro de América, na Fundação Memorial da América Latina
2001 - São Paulo SP - Arco das Rosas: marchand como curador, na Casa das Rosas
2001 - São Paulo SP - Auto-Retrato, Espelho de Artista, no Centro Cultural Fiesp
2001 - São Paulo SP - Fotografia/Não Fotografia, no MAM/SP  
2001 - São Paulo SP - Museu de Arte Brasileira: 40 anos, MAB/Faap 
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2001 - Washington (Estados Unidos) - Virgin Territory: women, gender, and history in contemporary brazilian art, no National Museum of Women in the Arts
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2002 - Rio de Janeiro RJ - Sandra Cinto, José Rufino, no Espaço Cultural Sérgio Porto 
2002 - São Paulo SP - Albano Afonso, Ricardo Carioba, Sandra Cinto, Laura Lima, Rubens Mano, Mário Ramiro, Mauro Restiffe, Márcia Xavier, na Galeria Casa Triângulo
2002 - São Paulo SP - Fotografias no Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no MAM/SP 
2002 - São Paulo SP - Insólitos, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Nefelibatas, no MAM/SP
2002 - São Paulo SP - Paralela, no galpão localizado na Avenida Matarazzo, 530
2003 - Iowa City (Estados Unidos) - Layers of Brazilian Art, na Faulconer Gallery  
2003 - São Paulo SP - A Subversão dos Meios, no Itaú Cultural  
2003 - São Paulo SP - Casa Triângulo, na Casa Triângulo  
2003 - São Paulo SP - Metacorpos, no Paço das Artes 
2003 - São Paulo SP - Meus Amigos, no MAM/SP
2003 - São Paulo SP - Ordenação e Vertigem, no CCBB
2004 - Rio de Janeiro RJ - Novas Aquisições 2003: Coleção Gilberto Chateubriand , no MAM/RJ  
2004 - São Paulo SP - A Foto Dissolvida, no Sesc Pompéia 
2004 - São Paulo SP - Arte Contemporânea no Acervo Municipal, no CCSP
2004 - São Paulo SP - Novas Aquisições: 1995 - 2003, no MAB/Faap
2004 - São Paulo SP - Fotografia e Escultura no Acervo do MAM - 1995 a 2004, no MAM/SP

Fonte: Itaú Cultural