Francisco Brennand
Francisco Brennand (Recife PE 1927)
Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand
Ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador, gravador.
Inicia sua formação em 1942, aprendendo a modelar com Abelardo da Hora (1924). Posteriormente, recebe orientação em pintura de Álvaro Amorim (19-?) e Murilo Lagreca (1899 - 1985). No fim dos anos 1940, pinta principalmente naturezas-mortas, realizadas com grande simplificação formal. Em 1949, viaja para a França, incentivado por Cicero Dias (1907 - 2003). Freqüenta cursos com André Lhote (1885 - 1962) e Fernand Léger (1881 - 1955) em Paris, em 1951. Conhece obras de Pablo Picasso (1881 - 1973) e Joán Miró (1893 - 1983) e descobre na cerâmica seu principal meio de expressão. Entre 1958 a 1999, realiza diversos painéis e murais cerâmicos em várias cidades do Brasil e dos Estados Unidos. Em 1971, inicia a restauração de uma velha olaria de propriedade paterna, próxima a Recife, transformando-a em ateliê, onde expõe permanentemente objetos cerâmicos, painéis e esculturas. Em 1993, é realizada grande retrospectiva de sua produção na Staatliche Kunsthalle, em Berlim. É publicado o livro Brennand, pela editora Métron, com texto de Olívio Tavares de Araújo, em 1997. Em 1998, é realizada a retrospectiva Brennand: Esculturas 1974-1998, na Pinacoteca do Estado - Pesp, em São Paulo. Desde os anos 1990, são lançados vários vídeos sobre sua obra, entre eles, Francisco Brennand: Oficina de Mitos, pela Rede Sesc/Senac de Televisão, em 2000.
Comentário Crítico
Francisco Brennand inicia sua carreira como pintor e escultor no fim da década de 1940. Em seus quadros, pinta flores e frutos que parecem flutuar no espaço pictórico, realizados com linhas simplificadas e cores puras. Posteriormente, descobre seu meio de expressão na cerâmica, incentivado por obras de Pablo Picasso (1881 - 1973), Joán Miró (1893 - 1983) e Léger (1881 - 1955), que conhece durante uma estada em Paris. Em 1971, reforma a fábrica de cerâmica de seu pai, próxima a Recife, então quase abandonada, transformando-a em um ateliê, que povoa de seres fantásticos, representados em relevos, painéis, objetos cerâmicos e esculturas.
O artista trabalha a cerâmica não só com a forma mas também com a cor. Obtém uma grande quantidade de tonalidades por meio das variações de temperatura que atuam sobre os pigmentos durante a queima das peças.
As esculturas de Brennand apresentam o caráter de tótens, ou se relacionam a signos da tradição popular. Em muitas obras, apresenta criaturas aterradoras, monstros, seres deformados ou que revelam um caráter trágico. Algumas esculturas estão ligadas a rituais de fertilidade, de culturas arcaicas, apresentando um caráter fortemente sexual. Produz figuras que freqüentemente têm um aspecto trágico, cuja estranheza é acentuada pelo acabamento rude.
Críticas
"Sua obra, somando cerâmica e pintura, jamais deixou de identificar-se com a origem nordestina - o toque e o cheiro da terra, as emanações de imagens que ali afloram, realidade e fantasia coletivas, coisas de toda a gente. Mas, nem de longe um ´ingênuo´, ele se situa entre os que exigem de si mesmos o conhecimento constante das motivações de cada recurso utilizado, sondando avanços, policiando o acordo de rudeza e refinamento. Não será errado perceber nele, e na sua obra, uma nova manifestação do elo típico entre a casa-grande e a senzala, que a estrutura social do Nordeste transpôs inevitavelmente à seara da arte. A fonte popular vale, portanto, como a seiva de que se alimenta o fidalgo Brennand. (O dado aristocrático, de nobiliarquia assumida, marcou o Movimento Armorial, um paralelo à escola pernambucana de pintura, de que ele também foi pilar. ) Aproveita dela certas constantes essenciais, como a ânsia de exorcizar o real pela investigação do imaginoso, a reinvenção da natureza próxima segundo uma flora e uma fauna fantásticas, a insistência no épico de heroísmos simples, a fusão de amor e morte sagrando o cotidiano num mar de forças primordiais. De início, até meados da década de 60, houve no que ele produziu uma tendência ao narrativo, quase irmanado à literatura de cordel, de colorido franco e humor frequente. Depois, e ainda hoje, passaram a predominar os elementos da fauna e da flora, isolados ou mesclados".
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987.
"É irresistível qualificar essas esculturas de totêmicas. Aliás, na linha da qualificação, poderíamos dizer que essa obra é filha do surrealismo, da metafísica e do fantástico. E essa rotulação não nos ajudaria a entender melhor o artista, a sua obra e de que maneira essa obra nos fala de nossas intuições. Pois se trata disto, do desvendamento de um mundo interior, de percepções submersas, de memórias e emoções, até então, para sempre soterradas. (...) É evidente que a obra de Francisco Brennand não trata apenas da estética. Esse valor, de uma maneira ou de outra, serve, também, de referência para essas obras. É uma maneira de observar, elemento de sinalização, ponte de entendimento. Mas não o principal desta obra, que não caminha por linhas retas, não se desenvolve historicamente em relação a si mesma, não tem a preocupação da coerência ou do diálogo imediato com o público".
Jacob Klintowitz
KLINTOWITZ, Jacob. Brennand e os seres de fogo. In: ______. Os Novos viajantes. São Paulo: Sesc, 1993.
"Nós nordestinos, nos preocupamos em sermos fiéis à terra, aos mitos, às histórias, às formas e cores da região. Não nos damos por satisfeitos senão quando sentimos que tais coisas estão agredindo os outros à primeira vista, de dentro de nossas obras. Em Francisco Brennand, porém, não existe esta ânsia. Ele absolutamente não se preocupa em verificar se o que está fazendo no momento corresponde ou não ao mundo que o cerca, se está ou não em conformidade com o seu tempo. Aqui, adota uma linha vista num jarro persa, ali se inspira num desenho renascentista, acolá num friso grego ou medieval. O fato é que o Brasil e o Nordeste são exatamente os herdeiros legítimos da tradição ocidental, latina, barroca, luxuriante da cultura mediterrânea. E como ele ao mesmo tempo absorve naturalmente tudo aquilo que o redeia, o resultado é que sua obra é a mais universal e a mais fiel à terra de quantas já saíram do Nordeste".
Ariano Suassuna
FERRAZ, Marilourdes. Oficina cerâmica Francisco Brennand: usina de sonhos. Recife: AIP, 1997.
Exposições Individuais
1960 - São Paulo SP - Pinturas e Cerâmicas, no MAM/SP
1961 - Salvador BA - Pinturas e Cerâmicas, no MAM/BA
1961 - São Paulo SP - Individual, na Galeria São Luís
1961 - Olinda PE - Pinturas e Cerâmicas, na Galeria da Ribeira
1963 - Natal RN - Individual, na Galeria de Arte e Prefeitura Municipal
1965 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie
1969 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Astréia
1969 - João Pessoa PB - Individual, na UFPB
1969 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Petite Galerie
1976 - Washington (Estados Unidos) - Desenhos e Cerâmica de Francisco Brennand, na Association of The Inter-American Development
1989 - São Paulo SP - Individual, na Galeria Montessanti - Roesler
1989 - Londres (Inglaterra) - Individual, na Galeria The South Bank Center - Royal Festival Hall
1993 - Berlim (Alemanha) - Pinturas e Cerâmicas, no Museu Staatliche Kunsthalle Berlin
1994 - Recife PE - Pinturas, na Galeria Espaço Vivo
1994 - Recife PE - Pinturas, na Plêiade Galeria
1998 - São Paulo SP - Individual, na Pinacoteca do Estado
1999 - Brasília DF - Individual, no Teatro Nacional de Brasília
2000 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Casa França-Brasil
2000 - Recife PE - Brennand: a procura da forma, no Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco
2000 - Manaus AM - Esculturas e Desenhos, no Centro Cultural Palácio Rio Negro
2004 - Curitiba PR - Brennand Esculturas: o homem e a natureza, no Museu Oscar Niemeyer
Exposições Coletivas
1947 - Recife PE - 6º Salão Anual de Pintura, no Museu do Estado de Pernambuco - 1º prêmio
1948 - Recife PE - 7º Salão Anual de Pintura, no Museu do Estado de Pernambuco - 1º prêmio
1950 - Recife PE - 9º Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco - 2º prêmio
1953 - Recife PE - 12º Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco
1954 - Recife PE - 13º Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco
1955 - Barcelona (Espanha) - 3ª Bienal Hispano-Americana
1955 - Salvador BA - 5º Salão Baiano de Belas Artes - medalha de prata
1956 - São Paulo SP - 50 Anos de Paisagem Brasileira, no MAM/SP
1959 - Oostende (Bélgica) - Exposição Internacional de Cerâmica e Pintura
1959 - São Paulo SP - 5ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1959 - São Paulo SP - Coletiva, na Galeria de Arte das Folhas, concorrendo ao Prêmio Leirner
1960 - Recife PE - Pintores Contemporâneos, na Igreja São Pedro dos Clérigos
1961 - Recife PE - 1ª Exposição da Cerâmica Artística, no 5º Congresso Nacional de Cerâmica, na Galeria da Prefeitura Municipal
1961 - Recife PE - Pintores Pernambucanos, na Galeria da Prefeitura Municipal
1962 - Recife PE - Pintura Religiosa em Pernambuco, no Atelier São Bento
1962 - São Paulo SP - Seleção de Obras de Arte Brasileira da Coleção Ernesto Wolf , no MAM/SP
1964 - Punta del Este (Uruguai) - Bienal de Artes Plásticas
1965 - Porto Alegre RS - Seis Artistas de Pernambuco, no Margs
1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
1970 - Recife PE - Movimento Armorial, na Igreja de S. Pedro do Clérigos
1971 - São Paulo SP - 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1972 - São Paulo SP - Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria da Collectio
1975 - Faenza (Itália) - 33º Concorso Internazionale della Cerámica d'Arte Contemporánea
1976 - São Paulo SP - O Desenho em Pernambuco, na Galeria Nara Roesler
1977 - Rio de Janeiro RJ - 2º Arte Agora: visão da terra, no MAM/RJ
1977 - Washington (Estados Unidos) - The Original and its Reproduction: a Melhoramentos project, no Brazilian-American Cultural Institute
1978 - Filadélfia (Estados Unidos) - The Original and its Reproduction: a Melhoramentos project, no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos
1979 - Recife PE - Escultura Brasileira, na Galeria Arteespaço
1980 - Recife PE - Coletiva, na Casa de Cultura de Pernambuco
1980 - Recife PE - Pintores Brasileiros, Galeria Vila Rica
1981 - Rio de Janeiro RJ - Mostra da Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1982 - Lisboa (Portugal) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
1982 - Londres (Inglaterra) - Brasil 60 Anos de Arte Moderna: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Barbican Art Gallery
1985 - Brasília DF - Brasilidade e Independência, no Teatro Nacional Cláudio Santoro
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1986 - Brasília DF - Pernambucanos em Brasília, na ECT Galeria de Arte
1988 - São Paulo SP - 63/66 Figura e Objeto, na Galeria Millan
1989 - Portugal - 2ª Bienal Internacional de Óbidos
1989 - Recife PE - Artistas Contemporâneos Pernambucanos, no Espaço Cultural Josael de Oliveira
1989 - São Paulo SP - 20ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1990 - Veneza (Itália) - 44ª Bienal de Veneza
1991 - Recife PE - Estética de Resistência, na Galeria Artespaço
1992 - Poços de Caldas MG - Arte Moderna Brasileira: acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, na Casa da Cultura
1992 - Recife PE - Interpretações, na Galeria Futuro 25
1992 - São Paulo SP - Estética de Resistência, na Galeria Montessanti - Roesler
1992 - Sevilha (Espanha) - Exposição Universal, na Expo'92
1992 - Zurique (Suíça) - Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus Zürich
1994 - São Paulo SP - Marinhas, na Galeria Nara Roesler
1994 - São Paulo SP - Os Novos Viajantes, no Sesc Pompéia
1995 - Caracas (Venezuela) - 2ª Bienal Barro de América, no Museo de Arte Contemporáneo de Caracas Sofía Imber
1995 - Maracaibo (Venezuela) - 2ª Bienal do Barro
1995 - São Paulo SP - Coletiva, no Masp
1995 - São Paulo SP - Filhos do Abaporu - Cerâmica, na Arte Brasil
1996 - Recife PE - Arte e Literatura, na Rodrigues Galeria de Artes
1996 - Recife PE - Arte e Religião, na Galeria Futuro 25
1996 - Recife PE - Artistas Plásticos na Mansão dos Antiquários
1996 - Recife PE - Cerâmica e Porcelana, no Museu do Estado de Pernambuco
1996 - Recife PE - Pernambucanidade e Regionalismo da Pintura Brasileira, no Citibank
1996 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio, no MAM/RJ
1996 - Salvador BA - Exposição da ABAV-Recife
1997 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: Perfil de uma Identidade, na sede do Banco Safra
1997 - Washington (Estados Unidos) - Escultura Brasileira: Perfil de uma Identidade, no Centro Cultural do BID
1998 - São Paulo SP - Coleção MAM Bahia: pinturas, no MAM/SP
1999 - São Paulo SP - Cotidiano/Arte. O Consumo, no Itaú Cultural
2000 - Recife PE - Ateliê Pernambuco: homenagem a Bajado e acervo do Mamam, no Mamam
2000 - São Paulo SP - Arte Erótica Brasileira, na Galeria Nara Roesler
2000 - São Paulo SP - Cerâmica Brasileira: construção de uma linguagem, no Centro Brasileiro Britânico
2000 - São Paulo SP - Escultura Brasileira: da Pinacoteca ao Jardim da Luz, na Pinacoteca do Estado
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
2001 - Brasília DF - Coleções do Brasil, no CCBB
2003 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Brazilianart, na Almacén Galeria de Arte
2003 - São Paulo SP - MAC USP 40 Anos: interfaces contemporâneas, no MAC/USP
2005 - São Paulo SP - Acervo 2005, no MAB/Faap
Fonte: Itaú Cultural